O genoma do ornitorrinco é uma colcha de retalhos com características de mamíferos, aves e répteis. Crédito: Zina Deretsky, National Science Foundation.
Pesquisadores acabaram de mapear o genoma de um ornitorrinco fêmea. A seqüência genética deste monotremado (classificação de ser vivo que pertence à ordem de mamíferos australianos que põem ovos) foi detalhada na edição de oito de maio da revista científica Nature.
“O ornitorrinco é um desmembramento muito antigo da árvore dos mamíferos, portanto a 166 milhões nós compartilhamos o nosso último ancestral com os ornitorrincos”, disse Jenny Graves, membro do estudo e gerente do Comparative Genomics Group na Universidade Nacional da Austrália. “E isso os coloca em algum lugar entre os mamíferos e répteis, pois eles ainda mantêm muitas características reptilianas que nós perdemos. Por exemplo: eles ainda põe ovos.”
“Portanto nós podemos usá-los para traçar as mudanças que ocorreram desde que deixamos de ser répteis: produção de pêlos e leite para dar nascimento direto à nossa prole.”
Este mamífero primitivo vive em tocas cavadas ao longo de córregos e rios nos quais captura sua comida, no leste da Austrália. Seu corpo plano e aerodinâmico possui 50 cm, com uma cauda na ponta que lembra uma raquete de pingue-pongue e quatro pés com membranas entre os dedos. O ornitorrinco (Ornithorhynchus anatinus) é um dos dois mamíferos — o outro é a equidna — que bota ovos. E diferente de qualquer outro mamífero, o ornitorrinco macho pode injetar veneno em outros animais e humanos através de uma espora que possui em ambas as patas taseiras.
Para descobrir as relações evolucionárias entre o ornitorrinco e os outros animais, os pesquisadores compararam o genoma de uma fêmea, que apelidaram de Glennie, com o dos humanos, rato, cães, opossums e galinhas. Estas últimas foram incluídas para representar os animais que botam ovos e, assim como répteis extintos, passaram muito de seu DNA para o ornitorrinco e outros mamíferos no curso da evolução.
Com aproximadamente 2,2 bilhões de pares de base, o ornitorrinco tem cerca de dois terços do tamanho do genoma humano, os pesquisadores descobriram. Ele compartilha mais de 80% de seus genes com outros mamíferos.
Assim como os humanos eles carregam cromossomos X e Y. Mas diferentemente de nós, estes não são cromossomos sexuais. “Isso significa que nós podemos voltar no tempo em que nossos cromossomos sexuais eram apenas cromossomos comuns”, disse Jenny.
A pesquisa revelou que o animal possui 52 cromossomos, incluindo 10 cromossomos sexuais.
O genoma também incluía seções de DNA ligados a botar ovos e outros a lactação. Como os ornitorrincos não possuem mamilos os filhotes sugam o leite através da pele abdominal da mãe.
Outra esquisitice: Enquanto o animal nada ele mantém seus olhos, narinas e ouvidos fechados e seu bico funciona como uma antena detectando os fracos campos elétricos das presas ao redor. Mesmo assim o genoma do animal revela genes olfativos.
O estudo, que incluiu mais de cem cientistas ao redor do mundo foi financiado pelo National Human Genome Research Institute (NHGRI). [Fonte]